PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Com recursos próprios, UFMG apoia mestrados profissionais, doutorandos e docentes com perfil júnior

Doutoranda em laboratório do ICB: apoio financeiro à participação em missões técnicas Foto: Lucas Braga / UFMG

"A Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG) divulgou, nesta quinta-feira, dia 20, o resultado de chamadas de apoio financeiro a mestrados profissionais, a doutorandos e a docentes com perfil júnior. Ao todo, 80 propostas foram contempladas com recursos próprios da UFMG. Os valores previstos nos três editais chegam a R$ 250 mil.
O Programa de Apoio aos Mestrados Profissionais (Pamp) tem o objetivo de fomentar a presença de professores visitantes nos cursos dessa modalidade na UFMG, para missões de ensino e pesquisa de curta duração. Propostas de cinco cursos foram aprovadas, e dez docentes de outras instituições participarão de atividades na Universidade. (...)

Os programas surgem em um momento em que as atividades acadêmicas são fortemente impactadas pela retração de recursos. 'Mesmo com dificuldades orçamentárias, procuramos atender aos programas e pesquisadores com menos acesso a fontes de financiamento e que precisam de mais suporte para se consolidarem', afirma a pró-reitora adjunta de Pós-graduação, Silvia Alencar."
leia na íntegra em https://ufmg.br/comunicacao/noticias/programas-de-apoio-da-pos-graduacao-anunciam-resultados-de-chamadas

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Meteorito que sobreviveu ao incêndio no Museu Nacional foi tema de crônica de Machado de Assis


O meteorito Bendengó, um dos poucos itens que sobreviveu ao trágico incêndio ocorrido esta semana no Museu Nacional, já foi tema de uma crônica de Machado de Assis. No texto de 1888, que trazemos abaixo, o escritor cria a conversa do objeto com o chefe da expedição que o levaria ao Rio de Janeiro.

(Fonte: http://letterabrasilis.blogspot.com/2013/02/o-meteorito-de-bendego-no-brasil.html)


27 de maio de 1888 / Gazeta de Notícias 

BONS DIAS !       

Cumpre não perder de vista o meteorólito de Bendegó[1] . Enquanto toda a nação bailava e cantava, delirante de prazer pela grande lei da Abolição, o meteorólito de Bendegó vinha andando, vagaroso, silencioso e científico, ao lado do Carvalho[2].
– Carvalho, dizia ele provavelmente ao companheiro de jornada, que rumores são estes ao longe?
E ouvindo a explicação, não retorquira nada, e pode ser até que sorrisse, pois é natural que nas regiões donde veio, tivesse testemunhado muitos cativeiros e muitas abolições. Quem sabe lá o que vai pelos vastos intermúndios de Epicuro[3] e seus arrabaldes?
Vinha andando, vagaroso, silencioso, científico, ao lado do Carvalho.
-- Carvalho, perguntou ainda, falta muito para chegar ao Rio de Janeiro? Estou já aborrecido, não da sua companhia, mas da caminhada. Você sabe que nós, lá em cima, andamos com a velocidade de mil raios; aqui nestas ridículas estradas de ferro, a jornada é de matar. Mas espera, parece que estou vendo uma cidade...
 – É a Bahia, a capital da província.
 Chegaram à capital, onde um grupo de homens corria para uma casa, com ar espantado, preocupado, ou como melhor nome haja em fisionomia, que não tenho tempo de ir ao dicionário. Esses homens eram os vereadores. Iam reunir-se extraordinariamente, para saber se embargariam ou não a saída do meteorólito
Até então não trataram do negócio, por um princípio de respeito ao governo central. O governo central ordenara o transporte e as despesas; a Câmara Municipal, obediente, ficou esperando. Logo, porém, que o meteorólito chegou à capital, interveio outro princípio – o do direito provincial. Reuniu-se a Câmara e examinou o caso.
Parece que o debate foi longo e caloroso. Uns disseram provavelmente que o meteorólito, tendo caído na Bahia, era da Bahia; outros, que vindo do céu, era de todos os brasileiros. Tal foi a questão controversa. Compreende-se bem que era preciso resolver primeiro esse ponto, para entrar na questão de saber se os meteorólitos entravam na ordem das atribuições reservadas às províncias. O debate foi afinal resumido e o voto da maioria contrário ao embargo; apenas dois vereadores votaram por este, segundo anunciou um telegrama.
E o meteorólito foi chegando, vagaroso, silencioso, cientiífico, ao lado do Carvalho.
– Carvalho, disse ele, os que não quiserem embargar a minha saída são uns homens cruéis. Mas por que é que aqueles dois votaram pelo embargo?
 – Questão de federalismo[4]...
E o nosso amigo explicou o sentido desta palavra, e o movimento federalista que se está operando em alguns lugares do império. Mostrou-lhe até alguns projetos discutidos agora, para o fim de adotar a Constituição dos Estados Unidos, sem fazer questão do chefe de Estado, que pode ser presidente ou imperador...
 Aqui o meteorólito, sempre vagaroso e científico, piscou o olho ao Carvalho.
 – Carvalho, disse ele, eu não sou doutor constitucional nem de outra espécie, mas palavra que não entendo muito essa constituição dos Estados Unidos com um imperador...
 Cheio de comiseração, explicou-lhe o nosso amigo que as invenções constitucionais não eram para os beiços de um simples meteorólito; que a suposição de que o sistema dos Estados Unidos não comporta um chefe hereditário resulta de não atender à diferença do clima e outras. Ninguém se admira, por exemplo, de que lá se fale inglês e aqui português. Pois é a mesma coisa.
 Entretanto, confessou o nosso amigo que, por algumas cartas recebidas, sabia que o que está na boca de muitas pessoas é um rumor de república ou coisa que o valha, que esta idéia anda no ar...
 –Noire? Aussi blanche qu’une autre.
–Tiens ! Vous faites de calembours? [5]
 –Que queria você que eu fizesse, retorquiu o meteorólito, metido naquelas brenhas de onde você me foi arrancar? Mas vamos lá, explique-me isso pelo miúdo.
 E o nosso amigo não lhe ocultou nada; confiou-lhe que andam por aí ideias republicanas, e que há certas pessoas para quem o advento da República é certíssimo. Chegou a ler-lhe um artigo da Gazeta Nacional, em que se dizia que, se ela já estivesse estabelecida, acabada estaria há muitos anos a escravidão...
 Nisto o meteorólito interrompeu o companheiro, para dizer que as duas coisas não eram incompatíveis: porque ele antes de ser meteorólito fora general nos Estados Unidos – e general do Sul, por ocasião da Guerra de Secessão, e lembra-se bem que os Estados Confederados, quando redigiram a sua constituição, declararam no preâmbulo: “A escravidão é a base da Constituição dos Estados Confederados”[6]. Lembra-se também que o próprio Lincoln, quando subiu ao poder, declarou logo que não vinha abolir a escravidão...[7]
 –Mas é porque lá falam inglês, retorquiu o nosso amigo Carvalho; a questão é essa.
 O meteorólito ficou pensativo; daí a um instante:
 –Carvalho, que barulho é este?
 –É a visita do Portela, presidente da província.[8]
 –Vamos recebê-lo, acudiu o meteorólito, cada vez mais vagaroso.

[1] Referência a acontecimento que mobilizou e emocionou durante algum tempo a opinião pública e a imprensa, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, para a qual deveria ser removido o meteorito, ou meteorólito,conhecido como  “de Bendegó”,  descoberto em 1784, no sertão da Bahia – remoção muito difícil,tanto que somente processada 102 anos depois, agora criando uma polêmica quanto ao “dono” do meteorito, se a União, o estado ou o município – o que refletia essencialmente um tema relevante,mormente naquele período de iminente transição entre um regime imperial e a já  ‘irreversível’  República : o federalismo , .o primeiro centralizador  do poder, o segundo preconizador da idéia da federação com (relativa) autonomia provincial..
[2] Comandante José Carlos de Carvalho, oficial da Armada,membro da  Sociedade Geográfica, chefe da expedição que trouxe o meteorito para o Museu Nacional. No Rio de Janeiro.
[3] Filósofo grego,que acreditava  na imortalidade dos  deuses.
[4] Com a iminência da República, a questão do federalismo já era  bastante discutida então.  Machado de certo modo se opunha  a ele  sistema, até porque era inerente ao novo regime contra o qual desde sempre foi  vigorosamente crítico : Machado sustentava que o federalismo essencialmente reforçaria o poder oligárquico inerente ao país (o Brasil como a “absolute Oligarchie- -- cf. o artigo publicado no  Rio-Post ,vd. cr. 230) uma vez dado poder às  províncias , estas dominadas pelas oligarquias (mesmo que ,por hipótese, tivesse sido implementado sob o Império, Machado mantinha,ou manteria, sua oposição pois federação e parlamentarismo lhe pareciam conceitos contraditórios (uma excrescência  como  “uma cobra casada com um rato”, diria em outra crônica – vd. cr. 235).
   . A visceral  rejeição de Machado  à República fora  definida certa feita, na Tribuna Liberal  : “Quanto às minhas opiniões políticas tenho duas,uma impossível outra realizada. A realizada é o sistema representativo e é sobretudo como brasileiro que me agrada essa opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano porque esse seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou(...)”.            
[5] Criativo  trocadilho bilíngüe de Machado , que faz  alusão ao temor disseminado nas elites de uma revolta de libertos inspirada na Republiquie Noire do Haiti –  e também a desdenha ( “tão branca quanto qualquer outra”).,
[6] O propósito de Machado é claramente demonstrar que ser republicano não implica em ser abolicionista, uma vez os sulistas nos Estados Unidos não terem lutado para mudar a forma de governo mas sim preservar a escravatura.(os denominados Estados Confederados eram uma república escravista). Em artigo de 25.08.1864 no jornal paulista Imprensa Acadêmica, exatamente durante a Guerra de Secessão norte-americana, Machado registrava: “(...)O general confederado Lee avança sobre Washington. Esta notícia desconcerta os partidários do Norte,parece que nada pode resistir aos planos del Grant, e sobretudo que não venha a triunfar a causa do Sul,isto é a causa da escravidão ! Causa da escravidão ! Até onde vai o alambicamento das palavras(...)”.
[7] O presidente norte-americano Abraham Lincoln somente durante a Guerra de Secessão promulgou a emancipação geral.

[8] Manuel do Nascimento Machado Portela, político conservador, nomeado em março 1888 presidente da Bahia.