Augusto
de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Engenho Pau d’Arco/PB, 1884 – Leopoldina/MG, 1914)
estudou na Faculdade de Direito do Recife (1903-7) onde teve contato com o
trabalho A poesia científica, de seu professor Martins Junior. Não advogava;
lecionava Português. Casou-se em 1910, com Ester Fialho. Depois de trabalhar
alguns anos no Rio de Janeiro, em 1913 mudou-se para Leopoldina, onde assumiu a
direção do grupo escolar e continuou a dar aulas particulares.
Seu
único livro, Eu, publicado em 1912 e inicialmente ignorado pelo público e pela
crítica, a partir de 1919 foi constantemente reeditado, já como Eu e outras
poesias. A métrica rígida, a cadência musical, as aliterações e rimas preciosas
dos versos são traços linguísticos formais que se articulam ao vocabulário
extraído da área científica. Morte dos sonhos, solidão e pessimismo são algumas
marcas linguísticas semânticas na poesia de Augusto dos Anjos. O mais
explicitamente social de todos os poemas de Augusto dos Anjos, Numa forja,
mostra o interior de uma indústria e seu ambiente de trabalho insalubre.
Luciana Martins Arruda
Luiz Paixão Lima Borges
NUMA FORJA
Augusto dos Anjos
De inexplicáveis ânsias prisioneiro
Hoje entrei numa forja, ao meio-dia.
Trinta e seis graus à sombra. O éter possuía
A térmica violência de um braseiro.
Dentro, a cuspir escórias
De fúlgida limalha
Dardejando centelhas transitórias,
No horror da metalúrgica batalha
O ferro chiava e ria!
Ria, num sardonismo
doloroso
De ingênita amargura,
Da qual, bruta, provinha
Como de um negro cáspio
de água impura
A multissecular
desesperança
De sua espécie abjeta
Condenada a uma estática
mesquinha!
Ria com essa metálica
tristeza
De ser na Natureza,
Onde a Matéria avança
E a Substância caminha
Aceleradamente para o
gozo
Da integração completa,
Uma consciência
eternamente obscura!
O ferro continuava a
chiar e a rir.
E eu nervoso, irritado,
Quase com febre, a ouvir
Cada átomo de ferro
Contra a incude esmagado
Sofrer, berrar, tinir.
(...)
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