Moradora do Quilombo Jiboia,
no município baiano de Antonio Gonçalves (11 mil habitantes), a professora
Jailde Lima da Silva tem a oportunidade de lecionar na Escola Municipal
Araguacy Gonçalves, na própria comunidade. “Sou filha deste quilombo”, diz. “Eu
me sinto feliz e realizada como professora de uma comunidade que retrata minha
identidade.”
Para Jailde, ser professora,
além de vocação, é missão. “Ensinar aos filhos de minha terra é um compromisso
com meu povo, que teve seus direitos negados ao longo de suas vidas”, diz.
“Sinto na pele o que é ser filha de pais analfabetos, que não tiveram a
oportunidade de frequentar uma escola, não por escolha, mas por ter esse
direito negado durante muitos anos.”
Além da escola Araguacy
Gonçalves, que tem 85 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação
de jovens e adultos e 32 no Projovem Campo – Saberes da Terra, o quilombo conta
com a Escolinha Chapeuzinho Vermelho e uma extensão do Centro Territorial
Piemonte Norte do Itapicuru (Cetep), que oferece cursos profissionalizantes. O Projovem
Campo é um programa nacional de fortalecimento e ampliação do acesso
e da permanência de estudantes no sistema formal de ensino. São atendidos,
basicamente, jovens agricultores familiares na faixa etária de 18 a 29 anos.
De acordo com a professora,
a escola quilombola inclui em sua proposta político-pedagógica a valorização da
cultura local, o que a torna diferente. “Ela trabalha de fato com a identidade
do povo quilombola, respeita a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres
da comunidade, e não trata as relações étnicas e raciais como folclore, apenas
nas datas comemorativas”, analisa.
Oportunidades — Segundo Jailde, é possível perceber um avanço
significativo na comunidade. “A educação abriu vários caminhos e oportunidades;
eu sou prova real dessa mudança”, afirma a professora, que tem graduação em
pedagogia e especialização em gestão escolar. “Quatro filhos da comunidade
conseguiram cursar uma faculdade, passar em um concurso público e ser
efetivados”, diz. “Ainda é muito pouco, mas são conquistas que minha mãe não
teve.”
As oportunidades de acesso à
escola, abertas atualmente a crianças e jovens, são destacadas pela professora
baiana. Ela cita itens como o transporte escolar e o livro didático, oferecidos
gratuitamente pelo Ministério da Educação. “Na minha infância, não havia
escola; eu frequentava uma casa de família, onde eram reunidas crianças com
idade acima de oito anos para serem alfabetizadas”, relembra. Como a professora
era sua madrinha, ele pôde participar desses encontros a partir dos dois anos,
acompanhando os irmãos. “Meus pais trabalhavam na roça, e não tinha quem
cuidasse de mim”, revela. O resultado é que Jailde conseguiu se alfabetizar aos
cinco anos. Há 15 anos no magistério, ela leciona as disciplinas de história,
geografia, sociologia e filosofia para estudantes do Projovem Campo. (Fátima Schenini)
Fonte: MEC (Portal do Professor)
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