A inadimplência das crianças
brasileiras com o tradicional dever de casa chega, em alguns casos, a 80%. Esse
quadro estimulou um grupo de profissionais a desenvolver o aplicativo Cora Educação Facilitada, incubado pela
Inova UFMG, que oferece estratégias para motivar as crianças a executar as
tarefas escolares em casa e possibilitar que seu acompanhamento seja aprimorado
por pais e professores.
Trata-se de uma plataforma
que pode ser acessada por computadores, tablets ou smartphones conectados à
internet, dotada de entradas e ferramentas diferentes para os atores envolvidos
nos processos escolares, que vão desde a criação dos planos de estudos até a
avaliação do desempenho dos alunos.
Por meio da plataforma, os
professores criam um cronograma de atividades que são automaticamente
adicionadas às agendas de cada um dos alunos. As questões inseridas em cada
plano de estudo podem ser redigidas pelo próprio educador no aplicativo ou
adaptadas do banco com mais de mil itens desenvolvidos pelos professores
autores e colaboradores, que cobrem os conteúdos do segundo ciclo do ensino
fundamental.
"O educador pode criar
questões que vão para um banco de dados individual, mas aconselhamos que ele
compartilhe com os demais professores, de modo que se estabeleça uma prática de
construção colaborativa de questões", afirma Cecília Passagli, gerente de
produto do Cora e ex-professora do ensino fundamental.
Cecília integra equipe de 22
profissionais que desenvolveu o aplicativo, formada por engenheiros de
software, designer de interação, gerente de produto, ilustrador e mais de uma
dezena de professores da educação básica.
À medida que completa as
atividades previstas no cronograma da turma – professores e pais recebem
atualização em tempo real –, a criança pode acompanhar o próprio desempenho em
uma escala gamificada: ela pode tornar-se um "ninja" em determinada
área e acumular pontos que, somados aos dos colegas de turma, concorrem em um
campeonato interclasse. O bom desempenho dos alunos também se converte em bônus
para o currículo dos professores na plataforma.
Na entrada do aplicativo, os
planos de atividades e estatísticas de tarefas completas de cada aluno ficam
visíveis para a família, que recebe notificações automáticas em casos de
inadimplência. Os gestores pedagógicos da escola têm acesso às estatísticas de
todas as turmas e são assessorados em estratégias de inteligência educacional
para desenvolver políticas institucionais com base nos dados gerados no
aplicativo.
Para desenvolver a
ferramenta, a equipe organizou sessões de entrevistas em grupos focais com
alunos, pais e gestores escolares para identificar os problemas e construir um
recurso tecnológico para minimizá-los. "O grupo com alunos foi o mais
interessante", relata Cecília. "Percebemos como essas crianças
conferem muito pouco valor ao dever de casa e o quanto ele é desmotivador",
completa.
O Cora já foi testado por
160 alunos de um colégio na região da Pampulha. De acordo com Lincoln Alves,
designer de interação do aplicativo, a utilização da ferramenta em ambiente
real indicou alguns pontos que podem ser aperfeiçoados em futuras atualizações.
"Além de planejarmos
uma comunicação ainda mais próxima da escola para ajudar na implantação do
aplicativo, vamos alinhá-lo com a forma como cada instituição já trabalha com o
dever de casa", relata Lincoln. "Construímos possibilidades para os
professores continuarem usando os livros didáticos, com atualização no
aplicativo", afirma o designer.
Nas novas funções do Cora,
os educadores podem incluir no cronograma de estudos as tarefas que devem ser
feitas fora do ambiente virtual, e, à medida que os alunos indicam a realização
das atividades pelo aplicativo, os dados desse tipo de tarefa também são
informados aos pais e gestores.
Segundo Cecília Passagli, a
intenção não é substituir o dever tradicional pelas questões do aplicativo nem
a assistência presencial da família pelas notificações do Cora. "Não vejo
a tecnologia substituindo o acompanhamento; os pais que desenvolveram o hábito
de acompanhar o aluno vão continuar a fazê-lo, os que ainda não têm esse
costume contarão com um recurso extra", destaca.
(Jeisy Monteiro/Boletim
1919)
Fonte: UFMG
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