(Foto: www.instagram.com/marcosdosanjos/) |
"Se
um dia, de passagem pelo viaduto de Santa Tereza, que liga a zona central à
leste de Belo Horizonte, você olhar para seus largos arcos de concreto e sentir
um leve ímpeto de escalá-los, saiba que você não é o primeiro a ter essa ideia.
E não se trata aqui de falar dos óbvios grafiteiros e pixadores que deixam suas
assinaturas nos pontos mais altos da construção. Mas de Carlos Drummond de
Andrade. O poeta, como lembra o jornalista Humberto Werneck em seu O Desatino
da Rapaziada, foi precursor do alpinismo urbano na capital mineira: 'Uma noite,
quando se equilibrava no ponto mais alto do arco do viaduto, Drummond recebeu
voz de prisão, e desafiou o guarda a ir prendê-lo nas alturas. O homem julgou
mais prudente relaxar a prisão'. O episódio aconteceu nos anos 20.
Em
1945, os quatro cavaleiros do apocalipse, composto pelos escritores Fernando
Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, também se
arriscavam nos arcos do Santa Tereza, imitando, ritualmente, o grande poeta
brasileiro. Agora, no caso de você estar na praça Liberdade, a pouco mais de um
quilômetro em linha reta do viaduto, e lhe bater uma nostalgia de tempos que
não viveu, talvez você esteja sentindo a presença metafísica desse mesmo
quarteto de escritores que corriam aos velhos bancos da praça para 'puxar
angústia'. Nas páginas do romance O Encontro Marcado, de Fernando Sabino:
'Puxar angústia era abordar um tema habitual, como el sentimiento trágico de la
vida, la recherche du temps perdu, to be or not to be'.
Mas
não é que Belo Horizonte, pródiga em ladeiras e ruas arborizadas, rescinda
apenas aos seus 120 anos de história. Há uma energia nova e jovem em suas ruas.
Pedestres para todo lado, comércios com portas abertas para as ruas e, ao mesmo
tempo, uma certa calmaria interiorana, uma certeza mineira de que a pressa não
levará a lugar algum. Isso tudo – sem mencionar as contradições inevitáveis que
toda cidade brasileira carrega – é o que é possível perceber em algo como 72
horas na capital mineira.
Tendo o tempo em ideia, o EL PAÍS preparou um guia com
dicas para quem vai passar cerca de três dias e duas noites na cidade. Acesse o guia em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/30/elviajero/1517342479_965178.html
Fonte: EL PAÍS
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