PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Tese do Cedeplar estima valor do trabalho doméstico

Se fossem remuneradas, atividades do lar gerariam o equivalente a 10% do PIB nacional; mulheres são responsáveis por 85% dos afazeres

Ilustração: Marcelo Lustosa / UFMG

"Dos 23 até por volta dos 80 anos de idade, as mulheres brasileiras passam, em média, mais tempo realizando trabalho doméstico para outros membros da família do que para o seu próprio benefício. No caso dos lares mais pobres, a idade de 13 anos é o marco para que a mulher passe a ter esse consumo negativo em relação à sua produção. De modo oposto, os homens são sempre beneficiários das transferências de tempo, independentemente do seu nível de renda. 

Esses são alguns dos resultados da investigação empreendida pela demógrafa Jordana Cristina de Jesus, autora da tese de doutorado Trabalho doméstico não remunerado no Brasil: uma análise de produção, consumo e transferência, defendida em junho deste ano, no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG.

A pesquisadora utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de ­Domicílios (Pnad) de 2013 e de 2016. Na Pnad, a coleta de dados sobre trabalho doméstico é limitada ao número de horas dedicadas à manutenção da casa. Assim, o equivalente ao cuidado com crianças é subnotificado, afetando o cálculo das transferências de tempo. Para estimar as contas brasileiras, a pesquisadora combinou os dados da Pnad com as informações da pesquisa de uso do tempo da Colômbia, já que aquele país compartilha algumas características sociodemográficas, econômicas e culturais com o Brasil.

Partindo do pressuposto de que tempo é recurso, a intenção de Jordana foi estimar o quanto as pessoas transferem de tempo, dentro de casa, para outros indivíduos. 'É comum a reflexão sobre a transferência de renda, que ocorre quando você, por exemplo, paga a mensalidade  escolar. Mas a abordagem sobre a transferência de tempo, sem fluxo monetário, é recente na literatura. Ela se dá quando a pessoa dedica certo número de horas a tarefas como cozinhar, lavar roupas, botar lixo para fora ou pagar contas, das quais outras pessoas do domicílio vão se beneficiar', exemplifica a autora. 

De acordo com Jordana, um homem de 30 anos produz, em média, uma hora de trabalho doméstico ao longo do dia, enquanto uma mulher da mesma idade realiza quatro vezes mais. Esse índice varia conforme o nível de escolaridade – mas somente entre o público feminino. Segundo a autora, uma brasileira de 25 anos, com até três anos de escolaridade, gasta quase seis horas por dia com afazeres domésticos não remunerados. Aquelas que estudaram por mais de 12 anos fazem menos de duas horas diárias desse tipo de serviço. No caso dos homens, a quantidade de horas nunca varia. 'Em geral, o homem executa o serviço doméstico até, no máximo, a demanda de seu próprio consumo', pontua a autora."