PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

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domingo, 6 de agosto de 2017

Palavras de um snob anarquista

Por ocasião da passagem do 1º de Maio, os grandes jornais desta cidade, bem ou mal, tiveram que tratar da questão social. Alguns, com aquele jeito furta-cor tão interessante para um zoologista, enquanto na primeira ou segunda página defendiam uma futura oligarquia atacando outra, na quarta ou quinta faziam panegíricos dos operários, etc., etc.; outros, com mais franqueza, ao dia seguinte, atacavam os anarquistas e exclamavam:

Que haja anarquistas na Europa, naqueles velhos países de civilização brilhante exteriormente, mas internamente carunchosa, já trabalhada pelos séculos e sofrendo o incurável reumatismo gotoso que caracteriza a gente de idade avançada que passou a vida em ceias e devassidões, vá lá, compreende-se.

A situação do operariado europeu é, de fato, precária, em vários pontos. Na Europa há miséria porque já há falta de trabalho; e já há falta de trabalho, porque a sua imensa civilização já está feita.

Há aí um bem inveterado engano. A civilização que nos domina, a forma de organização social sob que vivemos, é a mesma que a da Europa e tão antiga quanto a dela. Não há nenhuma diferença de tempo, não há nenhuma diferença de feitio: é a mesma.
O que caracteriza uma civilização são as suas ideias, os seus preceitos, as suas instituições e os seus sentimentos; e, por acaso, as ideias, os preceitos, as instituições que governam a Europa são diversos dos que nos governam?

Absolutamente não.

Quando no século XVI as primeiras naus portuguesas trouxeram para o Brasil conquistadores, guerreiros, padres e aventureiros, trouxeram também com eles as suas ideias de propriedade, de honra, de casta, de pátria, de rei e de Deus; e nunca mais os que ficaram deixaram de receber de lá essas ideias ou as modificações que elas foram sofrendo. Não houve, portanto, uma diferenciação de civilização, nas suas bases primordiais.

Os antigos colonizadores gregos, quando partiam a fundar uma colônia na orla do Mediterrâneo, levavam nas suas trirremes uma parte do fogo sagrado que ardia no altar da cidade ou das famílias respectivas. Isto queria bem dizer que eles iam continuar em outra parte a vida social – religiosa, militar e civil – que tinham até então levado nas suas respectivas pátrias. Não há via ideia de mudança, mas de continuação. Se não foi tão total a ideia dos colonizadores da Renascença, contudo, contra a sua vontade, a coisa se operou da mesma forma.

(...)