PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SIMPLES REPARO



O senhor doutor Sousa Leite, a quem conheço desde muitos anos e cujas qualidades de cavalheirismo e de inteligência sempre apreciei, voltando da Europa e sendo solicitado a isso, concedeu a um jornal desta capital – Rio-Jornal – uma entrevista sobre as suas impressões do momento que atravessam a indústria e o operariado europeus. 

Há muito que respigar nas suas palavras e eu me permiti a ousadia de fazer um simples reparo a um ponto de sua entrevista, em que, julgo, o doutor Sousa Leite foi totalmente infeliz.

É opinião do ilustre engenheiro que a abolição quase total... O melhor é transcrever as suas palavras. Ei-las:


A abolição quase total do ensino religioso nas escolas públicas, afetando mais diretamente as classes menos favorecidas da fortuna, matou ou adormeceu nelas a crença inata e necessária de uma recompensa futura, como compensação e justa paga da pobreza sofrida com voluntária resignação e ânimo forte, e fez irromper violenta e incoercível a aspiração à inteira igualdade de gozo e de fortuna, consequência lógica e fatal do materialismo triunfante.


Se quisesse brincar era caso de dizer que não havia necessidade desse narcótico transcendente da religião e o seu ensino para levar todos os trabalhadores a resignarem-se com a pobreza. Bastava a aguardente, a cachaça, que não exigem fé nem complicações de catecismo, padres, missas, sermões, etc. Não é ocasião, porém, de brincar, nem o doutor Sousa Leite é merecedor que assim se converse com ele ou contrarie o seu pensamento. Merece, por todos os motivos, que se lhe fale a sério e não lhe quero falar de outro modo.

(...)
Lima Barreto
                                                                                                                              Leia o texto completo

sábado, 26 de janeiro de 2013

QUE MUNDO É ESTE?


Que mundo? Que mundo é este?
Do fundo seio d’est’alma
Eu vejo... que fria calma
Dos humanos na fereza!
Vejo o livre, feito escravo
Pelas leis da prepotência;
Vejo a riqueza em demência
Postergando a natureza.

Vejo o vício entronizado;
Vejo a virtude caída,
E de coroas cingida
A estátua fria do mal;
Vejo os traidores em chusma
Vendendo as almas impuras,
Remexendo as sepulturas
Por preço d’áureo metal.
(...)
Luiz Gama

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Centenário da morte de Aluísio Azevedo

(...) 
Numa pequena mesa, coberta por um pedaço de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia, enquanto o dono ou dona da carta ditava em voz alta o que queria mandar dizer à família ou a algum mau devedor de roupa lavada. E ia lançando tudo no papel, apenas com algumas ligeiras modificações, para melhor, no modo de exprimir a ideia. Pronta uma carta, sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor.

— Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão, resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se lhe dá furo à vida por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas por cá não correm lá para que digamos!

E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:

— Que eu tenho sentido muito a sua falta dela; mas também sou o mesmo e não me meto em porcarias e relaxamento; e que tenciono mandar buscá-la, logo que Deus me ajude, e a Virgem!
(...)

In: O Cortiço


Em janeiro de 2013 completa-se o centenário da morte de Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo (1857-1913). 

Romancista, contista, cronista, diplomata e jornalista, Aluísio Azevedo publicou sua primeira obra, Uma Lágrima de Mulher, em 1879. É autor de O Mulato (1881), Casa de Pensão (1884), O Cortiço (1890), dentre tantas outras, nas quais retrata a situação degradante das casas de pensão, a exploração dos imigrantes e o drama diário dos trabalhadores de sua época.

Fontes:

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

VERA ZASSULITCH

Afirmou Dostoievski, não me lembro onde, que a realidade é mais fantástica do que tudo o que a nossa inteligência pode fantasiar. Passam-se, na verdade, diante dos nossos olhos coisas que a mais poderosa imaginação criadora seria incapaz de combinar os seus dados para criá-las.

Esse caso de Vera Zassulitch, cujo retumbante processo fez estremecer a Europa, em 1878, é um deles. Tudo nele é estranho e convém ser ele lembrado agora, quando a Revolução Russa abala, não unicamente os tronos, mas os fundamentos da nossa vilã e ávida sociedade burguesa.
(...)

Lima Barreto  
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Centenário de Rubem Braga – Nossa homenagem ao Sabiá das Crônicas



(...)
Devo confessar preliminarmente que entre um Conde e um passarinho, prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é por nada. Nem sei mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um passarinho canta e voa. O Conde não sabe gorjear nem voar. O Conde gorjeia com apitos de usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil, vozes dos operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham para o Conde. O Conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o Conde é um industrial, e o Conde é Conde porque é industrial. O passarinho não é industrial, não é Conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe cantar, sabe voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho.
(...) 
Rubem Braga
In: O conde e o passarinho, RJ: Record, 2002.

Em 12 de janeiro de 2013, lembramos o centenário de nascimento do escritor Rubem Braga. 
 
Nascido em Cachoeiro do Itapemirim/ES, iniciou seus  estudos naquela cidade. Posteriormente seguiu para Niterói/RJ onde estudou no Colégio Salesiano. Em Belo Horizonte formou-se em Direito,  mas não exerceu a profissão. Dedicou-se ao jornalismo profissional e escreveu diversas reportagens e crônicas publicadas em vários periódicos como: Diário da Tarde/MG, Diário de Pernambuco/PE, Folha do Povo/PE, Folha de São Paulo/SP, revistas Veja e Manchete, dentre outros.

Também como jornalista cobriu eventos importantes da história brasileira e da mundial como a Revolução Constitucionalista e a Segunda Guerra Mundial. Na carreira de jornalista foi repórter, redator,  editorialista e cronista.

É reconhecido como um dos melhores cronistas brasileiros e recebe, por isso, o título de “sabiá das crônicas”.
Fontes:

sábado, 5 de janeiro de 2013

SOBRE A CARESTIA



As várias partes do nosso complicadíssimo governo se têm movido para estudar e debelar as causas da crescente carestia dos gêneros de primeira necessidade à nossa vida. As greves que têm estalado em vários pontos do país muito têm concorrido para esses passos do Estado. Entretanto, a vida continua a encarecer e as providências não aparecem.
Não há necessidade de ser muito enfronhado nos mistérios das patifarias comerciais e industriais, para ver logo qual a causa de semelhante encarecimento das utilidades primordiais à nossa existência.
Nunca o Brasil as produziu tanto e nunca elas foram tão caras. O plantador, o operário agrícola continua a ganhar o mesmo; mas o consumidor as está pagando pelo dobro. Quem ganha? O capitalista. Ele e unicamente ele, porquanto o fisco mesmo continua a receber o mesmo ou quase o mesmo que antigamente.
(...)

Lima Barreto