Em 1893,
quando se dava na baía da nossa cidade a revolta Saldanha-Custódio, meu pai
exercia um pequeno emprego de almoxarife das Colônias de Alienados, na ilha do
Governador. Um belo dia, os revoltosos, capitaneados por um oficial de Marinha,
de cuja patente no tempo não me lembro, o Senhor Eliézer Tavares, que morreu
almirante, tendo por segundo um cirurgião-dentista, o Senhor Nogueira da Gama, lá
desembarcaram, mataram bois, carregaram gêneros, medicamentos e roupas e se
foram em paz. Assisti tudo.
Na manhã
seguinte, de falua, com alguns móveis e outros pertences domésticos,
transportávamos nós, isto é, a minha gente, para a ponta do Caju, tomando
caminho pelos canais pouco profundos que ficam entre os mangues e praias de
Inhaúna e as ilhas do Fundão (aí o canal é fundo), Caqueirada, Bom Jesus e
outras, cujos nomes me escapam. Emigrávamos.
Ficou
estabelecido, entre as altas autoridades, que meu pai ficasse no Engenho da
Pedra, litoral da Penha, com o depósito de gêneros necessários ao alimento de
duzentos doentes que estavam na ilha, e ali fosse morar, para guardá-los e
enviá-los em rações diárias para os dementados em abandono.
Assim fez
ele.
(Lima Barreto)
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