Estamos
em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo
e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e
creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me
traz se misturam recordações da minha meninice.
Agora
mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou
em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato
passou; e nós fomos esperar a assinatura no Largo do Paço.
Na
minha lembrança desses acontecimentos, o edifício do antigo paço, hoje
repartição dos Telégrafos, fica muito alto, um sky scraper; e lá de uma das
janelas eu vejo um homem que acena para o povo.
Não
me recordo bem se ele falou e não sou capaz de afirmar se era mesmo o grande
Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas...
Fazia
sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria.
Era
geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação,
deram-me uma visão da vida inteiramente festa e harmonia.
(...)
O texto Maio, de Lima Barreto, foi publicado originalmente no periódico Gazeta da Tarde, de 04 de maio de 1911.
Leia o texto completo
Lima Barreto |
O texto Maio, de Lima Barreto, foi publicado originalmente no periódico Gazeta da Tarde, de 04 de maio de 1911.
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