A
história da mágoa que o levou a uma semiloucura, ele ma contou muitas vezes de
um modo inalterável. Cabinda de nação, ele viera muito menino da Costa da
África e um português hortelão o comprara e lhe ensinara o ofício de plantar
couves.
O
seu senhor tinha uma grande horta pelas bandas da Rua do Pinheiro, no Catete, e
logo que o pobre Manuel – era esse o nome do meu cabinda – cresceu um pouco,
pela manhã, com verduras cuidadosamente contadas pelo senhor, ele saía para o
Catete e Botafogo a vender couves, repolhos, cenouras, etc. Levavam as verduras
e legumes preços marcados, mas ele as podia vender mais caro, ficando para si o
excedente. Durante anos, Manuel de Oliveira, pois, como era costume, veio a
usar o sobrenome do senhor, fez isso, ao sol e à chuva, juntando nas mãos do
senhor os seus lucros diários. Quando chegou a certa quantia estipulada, o
Oliveira, dono da horta, deu-lhe a sua carta de alforria.
Não
saiu da companhia do seu antigo senhor e com ele continuava a trabalhar,
mediante salário.
Habituado
a economizar, continuava a fazê-lo, mas não sem que, de quando em quando,
comprasse o seu “gasparinho”. Um belo dia, a sorte bafejou-o e a loteria deu-lhe
um conto de réis, que ele guardou nas mãos do patrão.
(...)
Lima Barreto
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