Quando,
em 1889, o Senhor marechal Deodoro proclamou a República, eu era menino de oito
anos.
Embora
fosse tenra a idade em que estava, dessa época e de algumas anteriores eu tinha
algumas recordações. Das festas por ocasião da passagem da Lei de 13 de Maio
ainda tenho vivas recordações; mas da tal história da proclamação da República
só me lembro que as patrulhas andavam, nas ruas, armadas de carabinas e meu pai
foi, alguns dias depois, demitido do lugar que tinha.
E
é só.
Se
alguma coisa eu posso acrescentar a essas reminiscências é de que a fisionomia
da cidade era de estupor e de temor.
Nascendo,
como nasceu, com esse aspecto de terror, de violência, ela vai aos poucos
acentuando as feições que já trazia no berço.
Não
quero falar aqui de levantes, de revoltas, de motins, que são, de todas as
coisas violentas da política, em geral, as mais inocentes talvez.
Há
uma outra violência que é constante, seguida, tenaz e não espasmódica e
passageira como a das rebeliões de que falei.
Refiro-me
à ação dos plutocratas, da sua influência seguida, constante, diurna e noturna,
sobre as leis e sobre os governantes, em prol do seu insaciável enriquecimento.
Lima Barreto
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