Eu
lhe escrevo esta carta, com muito desgosto, pois interrompo a série de
impressões que vinha escrevendo sobre o país da Bruzundanga. Mas Vossa
Excelência merece semelhante interrupção. Vossa Excelência é o mais cínico dos
sujeitos que se fizeram ministro de Estado. Nem o Calmon, que se fez agora
cadete, para ver se arranja um lugar de ministro de qualquer coisa, é igual a
Vossa Excelência.
Ministro,
meu caro e excelentíssimo Senhor Zé Rufino1 ou Chico Caiana, é um cidadão
investido de certas e grandes autoridades paraprever as necessidades públicas;
ministro, Rufino, não é um reles especulador!; ministro, Chico da Novilha, é alguma coisa
mais do que um simples agiota.
Agora
você (mudo de tratamento) fez-se ministro para ser caixeiro de um reles
sindicato de judeus belgas e mais ou menos franceses, para esfomear o Brasil e
ganhar dinheiro.
É muito justo que vocês queiram ganhar dinheiro; é muito justa essa torpe ânsia burguesa de ajuntar níqueis; mas o que não é justo é que nós, todo o povo do Brasil dê prestígio a você, ministro e secretário de Estado, para nos matar de fome.
(...)
Lima Barreto
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