O
senhor doutor Sousa Leite, a quem conheço desde muitos anos e cujas qualidades
de cavalheirismo e de inteligência sempre apreciei, voltando da Europa e sendo
solicitado a isso, concedeu a um jornal desta capital – Rio-Jornal – uma
entrevista sobre as suas impressões do momento que atravessam a indústria e o
operariado europeus.
Há
muito que respigar nas suas palavras e eu me permiti a ousadia de fazer um
simples reparo a um ponto de sua entrevista, em que, julgo, o doutor Sousa
Leite foi totalmente infeliz.
É
opinião do ilustre engenheiro que a abolição quase total... O melhor é
transcrever as suas palavras. Ei-las:
A abolição quase total do ensino religioso nas escolas públicas,
afetando mais diretamente as classes menos favorecidas da fortuna, matou ou
adormeceu nelas a crença inata e necessária de uma recompensa futura, como compensação
e justa paga da pobreza sofrida com voluntária resignação e ânimo forte, e fez
irromper violenta e incoercível a aspiração à inteira igualdade de gozo e de fortuna,
consequência lógica e fatal do materialismo triunfante.
Se
quisesse brincar era caso de dizer que não havia necessidade desse narcótico
transcendente da religião e o seu ensino para levar todos os trabalhadores a
resignarem-se com a pobreza. Bastava a aguardente, a cachaça, que não exigem fé
nem complicações de catecismo, padres, missas, sermões, etc. Não é ocasião,
porém, de brincar, nem o doutor Sousa Leite é merecedor que assim se converse
com ele ou contrarie o seu pensamento. Merece, por todos os motivos, que se lhe
fale a sério e não lhe quero falar de outro modo.
(...)
Lima Barreto
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